“(…) alimento o ideal de achar que é possível uma nova cozinha portuguesa que não descaracteriza as matérias-primas e os sabores tradicionais, antes lhes explore as potencialidades inovando de forma criativa – e saborosa, que é isso que em primeira instância se pede a uma refeição. Confesso que é relativamente raro aproximar-me desse horizonte de esperança; mas há poucos dias, fui encontrá-lo exuberantemente realizado em Trás-os-montes.
O RESTAURANTE tem meia dúzia de anos, chama-se Flor de Sal e fica derramado sobre o Tua, em Mirandela. Aqui, a tradição é de peso: terra de oliveiras e de enchidos, de óptimo azeite e das melhores alheiras, que fazer com estes materiais que não seja aquilo que já se conhece? Se há terra onde a tradição pode ser bloqueadora, esta há-de ser uma delas. Uma alheira é uma alheira ( embora a alheira de bacalhau…). No Flor de Sal não é só isso – sem deixar de ser uma alheira. Não antecipemos, porque a prova é exigente.
Para começar, a arquitectura, que é moderníssima, elegante, funcional e confortável, tirando bom partido da relação com o rio, espelho de água aberto a actividades náuticas e pequenas proezas natatórias, mais refrescantes que atléticas. Depois, o conceito. Porque, ao invés dos restaurantes muito urbanos, que nos vendem como concept o que é ausências de gosto e de saber, há no Flor de Sal um conceito assumido e transparentemente legível por quem lá vai: este restaurante coloca a oliveira e os seus produtos no centro do seu discurso gastronómico.”